Descarregador de Cheias da Caniçada
As obras do descarregador compreenderam:
- Uma soleira WES equipada com duas comportas de superfície, implantada na margem esquerda, a montante da zona do encontro da barragem;
- Um túnel de geometria variável, localizado sob o encontro esquerdo da barragem, com cerca de 200m de extensão;
- Uma estrutura terminal em trampolim;
- Um dispositivo de caudal ecológico.
A complexidade da obra prendeu-se essencialmente na construção da ensecadeira da boca de entrada, que teve de ser garantida durante o período em que a EDP garantia o rebaixamento da albufeira. Este processo de construção pode ser divido em 5 fases.
Estrutura de Entrada
A estrutura de entrada do descarregador é do tipo frontal e compreende dois vãos iguais, com 8,75m de largura, separado por um pilar com forma hidrodinâmica em planta.
Nestes dois vãos a soleira tem perfil do tipo WES com o paramento de montante inclinado a 1:1,5 (H:V), caracterizada por uma carga de dimensionamento de 12,50m e crista à cota (138,50). Como órgão de obturação dos vãos, adotaram-se comportas do tipo segmento, manobradas por servomotores, com um curso útil de aproximadamente 6m.
Túnel
À estrutura de entrada segue-se o túnel revestido a betão, com secção transversal variável, cuja soleira se desenvolve aproximadamente desde a cota (134,30) até à cota (98,35), numa extensão de aproximadamente 200m. Em perfil, o túnel apresenta dois trechos retos com declives de 77 e 10,3%, concordantes por uma curva circular com 50m de raio. O túnel apresenta um eixo retilíneo em planta.
Ao longo de todo o túnel, a secção transversal é dividida ao meio por um septo situado no prolongamento do pilar que separa os dois vãos da estrutura de entrada.
No troço inicial, com cerca de 60m, efetua-se a convergência da secção transversal, inicialmente com cerca de 2 x 105m2 até uma secção constante com cerca de 2 x 55m2. A parte final do descarregador, a céu aberto, é constituída por um troço em canal com cerca de 56m de extensão, que termina com uma estrutura em trampolim, também dividida por um septo.
Estrutura de Saída e Condições de Restituição
Tendo em vista a dissipação da energia do escoamento descarregado, optou-se por uma solução de dissipação de energia no ar e, fundamentalmente, por impacto no leito do rio, dadas as boas características do terreno na zona de incidência do jato. Assim, adotou-se uma estrutura terminal do descarregador em trampolim que, como o túnel, se encontra dividida por um septo.
Para direcionar os jatos para o leito do rio, nos 26m finais, o descarregador descreve uma curva em planta, que termina com um ângulo de 15º em relação ao eixo do túnel.
Ensecadeira
Esta fase passou pela execução de um muro de gravidade, em betão simples, ao longo de toda a extensão da ensecadeira.
De forma a dotar o muro de gravidade de condições de fundação compatíveis com as solicitações determinadas pelo impulso da água a tardoz do mesmo, foi prevista a execução de uma cortina dupla de colunas de “jet grouting” com diâmetro ϕ1,00m. Estas foram dispostas em quincôncio sendo que o afastamento longitudinal entre colunas é de 0,80m e o afastamento entre as duas fiadas de colunas é de 0,70m.
No tardoz do muro, de forma a aumentar a segurança ao deslizamento e ao derrubamento do muro, sucedeu-se a execução de microestacas de varão tipo GEWI ϕ50mm, ou equivalente, afastadas de 2,40m e inclinadas a 30º com a vertical.
Dispositivo de Caudal Ecológico
O dispositivo de descarga de caudal ecológico é constituído por dois circuitos hidráulicos independentes, inseridos no muro ala direito da estrutura de entrada do descarregador de cheias complementar.
Cada um dos circuitos é constituído por uma conduta metálica horizontal, de secção circular, equipada, de montante para jusante, com grade de proteção, ensecadeira, válvula de isolamento e válvula de regulação de caudal.
No Circuito 1, o primeiro troço de conduta tem DN 1200mm, eixo à cota (134,00) e cerca de 7m de comprimento. No final deste troço encontra-se a válvula de isolamento (do tipo borboleta, com DN 1200mm) e a válvula de regulação de caudal (do tipo anelar, com DN 1200mm).
A jusante desta válvula, situa-se um segundo troço de conduta, com cerca de 15m de comprimento e DN 1400mm. Este segundo troço faz um ângulo de cerca de 45º com o primeiro, estando orientado para o interior do túnel do descarregador de cheias complementar, para onde é lançado o caudal ecológico e através do qual é restituído ao rio Cávado.
O Circuito 2 difere do Circuito 1 nas dimensões das condutas e das válvulas, tendo o primeiro troço de conduta DN 800mm e cerca de 7m de comprimento. No final deste troço encontram-se as válvulas de isolamento (do tipo borboleta) e de regulação de caudal (do tipo anelar), ambas com DN 800 mm.
A jusante das válvulas, situa-se o segundo troço de conduta, com cerca de 13m de comprimento e DN 1000 mm, devidamente arejado. Tal como no Circuito 1, este troço faz com o primeiro um ângulo de cerca de 45º, estando orientado para o interior do túnel do descarregador de cheias complementar, para onde é lançado o caudal ecológico e através do qual é restituído ao rio Cávado.
O dispositivo de caudal ecológico foi dimensionado de modo que o conjunto dos dois circuitos permita descarregar uma gama de caudais entre 0,24 e 8,90m3/s, para níveis da albufeira situados entre o NPA à cota (152,50) e o nível mínimo de exploração praticado nesta albufeira situado à cota (144,00).
